segunda-feira, 22 de junho de 2015

Por que se deve estudar Latim?

Uma língua que não morreu, mas se transformou:



Ouve-se dizer, frequentemente, que o latim é uma língua morta. Segundo o dicionário, a palavra “morta” é um adjetivo que significa privado de vida, esquecida ou apagada na memória, extinta; no contexto linguístico, chamam-se mortas as línguas que se conservam somente em documentos. Escritas, mas não faladas.
Na história da linguagem humana, o latim não é um começo absurdo nem um final definitivo. Constitui uma etapa de transição. Surgiu de uma língua mais antiga, já evoluída, da qual conhecemos outras ramificações. Prolonga-se, largamente diversificada, sob a forma de línguas-filhas que são as línguas românticas. Através dos tempos, estas ultrapassaram o quadro europeu: o português, o espanhol e o francês, atravessaram os oceanos para se implantarem na África e na América. São hoje faladas por milhões de pessoas as línguas derivadas do latim.
O conhecimento das suas estruturas linguísticas facilita a aprendizagem destas línguas irmãs e proporciona um conhecimento mais profundo da nossa língua materna. Considera-se que a aprendizagem do Latim é um dos meios mais adequados para se desenvolver o raciocínio.

A literatura latina apareceu no fim do sec. III A.C. e prolongou-se até ao séc. VI. Até o século, XVIII a maior parte do que foi escrito na Europa, no domínio da filosofia e da ciência, foi-o em latim. Portanto, durante mais de vinte séculos entendeu-se o uso falado ou escrito do latim.
Os Romanos deixaram, através de sua língua, uma visão do mundo e do homem. Tendo assimilado a cultura grega, associaram a saga helênica e a paixão da ciência à sua tendência para organizar, administrar, legislar. Desaparecido o Império Romano, ficou a Latinidade, e a Latinidade – como diz Jorge Luís Borges - é o Ocidente. O desconhecimento da Latinidade seria uma grave lacuna na formação intelectual dos que enveredam por cursos de ciências humanísticas.
Os nossos homens de letras continuam a ler e traduzir os clássicos.
A sociedade atual precisa mais de engenheiros, técnicos, etc. do que de letrados. O comércio precisa mais de línguas vivas. O humanismo técnico, mais voltado ao comercio, á indústria, ao progresso tecnológico, esquece-se que o homem, a sociedade, não vive exclusivamente desses valores, mas precisam da cultura do espirito humano.
É assim que o latim, sob novas formas, ainda vive. Se, por exemplo, o Etrusco, que desapareceu sem deixar descendência merece o nome de língua-morta, o latim deverá antes ser qualificado como língua-mãe.
ESTUDAR LATIM PRA QUÊ?
Muitos perguntarão, certamente, para que serve estudar uma língua que não se fala. Nada mais errado. A língua latina, para além de ser uma língua de cultura, continua a ser falada e escrita em muitas circunstâncias. Na Finlândia, um país que não fala uma língua de origem latina, há um noticiário radiofônico em latim, com notícias da atualidade – pode ser consultado em yleradio1.fi/nuntii. Muitas são as páginas da internet escritas em latim, o Facebook também pode ser consultado em latim, etc. E todos os anos há vários seminários de férias onde só se fala em latim. E isto acontece mais nos países de língua germânica do que nos países de língua derivada do latim.

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