quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Será que nós escolhemos aquilo de que gostamos?


Aquela música que cantamos quando andamos nas ruas; aquele filme sobre o qual comentamos com nossos amigos; aquela roupa que compramos, da vitrine, e que nos deixa muito parecidos com todo mundo; tudo isso entra na relação das coisas de que gostamos... mas será que realmente escolhemos aquilo de que gostamos?
O mundo vive em constantes transformações e nesses últimos cem anos as mudanças ocorreram de forma excepcionalmente rápidas. Isso se justifica, em grande parte, pelo desenvolvimento das tecnologias de informação e transporte.
Esse desenvolvimento proporcionou maior capacidade de interação entre povos de culturas diferentes, consequentemente, maiores relações sociais e comerciais. Entretanto, a possibilidade de aproximação com culturas e hábitos distantes favorece ao modelo de mercado capitalista que busca a qualquer custo ampliar seus lucros.
Com essa visão estritamente comercial, como fazer, então, para aumentar os lucros? Não seria mais fácil fazer as pessoas gostarem das mesmas coisas do que oferecer uma grande diversidade de produtos tentando adaptá-los a cada cultura ou costume? 
Para as grandes empresas, a ideia de moldar os hábitos, os costumes, os desejos da população é um caminho viável, que gera grandes investimentos, mas traz lucros incalculáveis.  O capital, então, domina os meios de comunicação e massifica as informações, manipulando facilmente a população que, por ter nos instrumentos midiáticos sua principal ou única fonte de informação, passa a acreditar que os padrões ali mostrados são os únicos modelos de bem estar, satisfação, e felicidade que existem.
Então, percebemos que os gêneros e os estilos apresentam, geralmente, muitas características genéricas semelhantes o que facilita a penetração em culturas diferentes a partir do processo massificante que se apresenta como representante de “status” e de pertencimento a uma elite robotizada e nada individualista.
Além disso, os produtos oferecidos por essa indústria cultural seguem a um padrão quase ritualístico em que o tempo de permanência da moda ou do sucesso de uma música ou filme correspondem diretamente ao tempo do lucro. Cada produto oferecido é explorado até sua saturação e depois descartado uma vez que não oferece mais rendimentos. Entretanto essa postura não permite que se deixe legado cultural às gerações futuras. Lembramos com mais facilidade das músicas das décadas de 60 e 70 do que das músicas atuais, já que estas não tiveram o tempo da identificação do seu ouvinte. O ator ou atriz famoso logo cai no esquecimento se seus filmes não impactam os espectadores. A roupa do início do ano é olhada no final daquele mesmo ano com um certo ar de desconfiança de como foi possível usar aquele artefato que agora parece ridículo.
Se entendermos, dessa maneira, que somente somos capazes de escolher aquilo que está entre o que conhecemos e se observarmos que diante de infinidade de sabores e saberes; ritmos e valores que a cultura brasileira tem, temos acesso a apenas uma meia dúzia de gêneros (aquilo que a indústria cultural escolheu para nos oferecer), certamente não somos nós quem escolhemos do que gostamos. Somos, na verdade, escolhidos pelas músicas e temos a impressão de sermos senhores das nossas vontades enquanto somos manipulados como títeres nas mãos dos interesses e das garras do capital.

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